3/19/2013

Pequena, doce, rebelde…


Fonte: http://gi256.photobucket.com/groups/hh166/5YR8RYWFZ0/wp11.gif

Ainda me lembro das tuas calças aos quadradinhos brancos e pretos à boca-de-sino, os rapazes ficavam doidos e tu sentias-te bem com isso… não sabias o que significava, mas agradava-te explorar e brincar… eras uma flor fechada e impenetrável, na realidade… nunca soubeste ser de outra forma, pois a responsabilidade de não o seres… seria tão somente tua! Bicho-do-mato criado em cidade… não sente da mesma maneira, não age da mesma maneira. Brincavas com o vento em criança e caçavas o tempo, qual Diana certeira e perfeita no alvo a abater… eras genuína e doce… ainda me lembro quando te enviaram para aquele convento disfarçado de “Tempos Livres”, apenas se queriam ver livres de ti durante uns tempos… eras potro indomado, selvagem… nunca deixaste que te pusessem o bridão na boca. As freiras obrigaram-te a vestir um “saiote” de cetim debaixo daquela saia “hippie” transparente com flores campestres desenhadas, que tanto gozo te dava usar… não vias maldade… apenas liberdade. De tão ridículo, sorrias à gargalhada e gozavas com a situação. Ao fim da noite, Lolita precisava de saborear um cigarro, “Ventil”… tinha acabado de sair aquela caixa com os cigarros maiores e demoravas mais tempo a absorver aquele veneno calmante. Por entre dois dedos sabia-te bem ter tudo controlado. Se não fosse assim, as coisas não seriam calmas e a tua marca ficava em todos os que te rodeassem. Eras intensa em tudo… líder de natureza, com o sangue a ferver nas “ventas” por sinal! As vigilantes, perdiam as estribeiras e apanhavam-te até de lanterna na mão, lençóis prontos à janela decidida para saltar, garrafas apertadas e barulhentas, que faziam todos rir desenfreadamente durante os votos de silêncio à hora de almoço que achavas serem demasiado cinzentos e fúnebres. Aquele rapaz mais dos lados do norte mexeu contigo, mas sabias que depois de toda aquela palhaçada, tudo iria acabar… e tanto tu como ele. Beijo roubado durante as palavras do “nosso” Zeca Afonso, e foi roubado discretamente, soube bem… sabia a uma mistura de rebuçado de morango e “Chiclete” das amarelas. Mas não devias… nem tu nem ele. Afastaste-te e ele ressentiu-se, magoou-se, chorou… até querias continuar, mas sabias que não dependia de ti, só tinhas 13 anos. Quando tudo acabou, acabaram-se também as rodas a cantar com guitarras, sentados no chão, a bater palmas… No dia seguinte, a despedida triste e alegre em que te faziam sentir horrível por saberes que todos os pais pagavam alguma coisa para lá estarem… e tu sabias que os teus nunca davam nada ou não era o suficiente… era o pior momento de todos, sentias-te agradecida mas também envergonhada. Tal como davam, naqueles sítios… sempre tiraram e julgaram por dares pouco, ali… era tudo diferente. Nunca o esqueceste… Passados 20 anos, num contexto completamente fora… reencontram-se. Nem tu, nem ele sabiam quem eram, mas… quando te foste embora daquele local, ele disse-te que tinha a vida completamente destruída e tu perguntaste inocentemente, já domada pela vida… como o podias ajudar, nunca recebeste resposta… agora sabes o porquê. Era ele!! Existem coisas que por vezes não fazem sentido… ali naquele momento, nada fazia sentido, mas depois… ele tornou-se “Padre”. Tomás de Aquino… foi ele quem to disse. Ainda trocaste cartas com ele depois daquilo tudo, talvez durante um ano, terias 14, mas com o tempo… deixaram de chegar e nunca mais se falaram. Tu foste o pecado e ele… sabe-se lá! A concha não fazia sentido depois de 20 anos… até a tocares com a tua mão.

(Bríggida Almar 2013)

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